A mansão Boaz tem seus silêncios próprios. Há o silêncio do luto, que mora nos corredores desde a morte de Abel; há o silêncio da desconfiança, que ronda cada passo de Jaques; e há, também, o silêncio da esperança — aquele que aparece quando alguém, apesar de tudo, decide escolher o afeto. Naquela tarde, esse último silêncio tomava conta do jardim.
Samuel caminhava sem rumo, contando passos entre as pedras do caminho. O cascalho estalava sob os sapatos e, a cada som, o coração dele respondia com outro estalo. Vai, ele dizia para si mesmo. Ou você vai continuar engolindo essa vontade até ela virar pedra?
No alto da escada externa, Sofia observava o irmão com a autoridade de quem dirige um filme. Nos últimos dias, ela já tinha feito de tudo: aconselhou, treinou fala, ensaiou olhar, recebeu confidências e, claro, preparou "cenário".
Mandou aparar a grama, espalhou lanternas de papel pelo caminho e combinou com Denise um suco de uva na jarra "bonita". E, principalmente, combinou com Leona de "dar uma passada" no jardim às seis e quinze.
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