Desde o dia em que Margarida descobriu que seu pseudônimo, Adamo Angel, havia vencido o concurso de radionovelas promovido pela Rádio Aurora, ela não dormia direito. O coração parecia uma escola de samba em plena avenida.
— Eu ganhei… eu ganhei mesmo! — repetia para si mesma diante do espelho, segurando a carta de confirmação como se fosse um troféu.
Mas havia um detalhe — um pequeno grande detalhe. Ninguém sabia que Adamo Angel era, na verdade, Margarida Almeida, moça tímida, bibliotecária de fala mansa e roupas sempre discretas.
Ela inventara o pseudônimo por pura timidez — e talvez, no fundo, por achar que ninguém levaria uma mulher a sério num meio tão dominado por homens como era o das radionovelas.
Agora, ela tinha um problema enorme: o diretor da rádio, Lúcio Albuquerque, queria conhecer pessoalmente o misterioso Adamo Angel para discutir o projeto vencedor.
E foi aí que entrou Asdrúbal, seu amigo excêntrico, dono de um antiquário cheio de figurinos antigos e ideias ainda mais malucas.
— Se é pra enganar, que seja com classe — disse ele, já colocando sobre a mesa um fraque azul-marinho e um par de óculos de aro grosso.
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