O dia mal havia amanhecido, mas a rua em frente ao Dancing Paris já fervia. Carros buzinavam, vendedores gritavam, e um grupo de mulheres se alinhava pela calçada, formando uma fila que parecia não ter fim. Eram costureiras, balconistas, telefonistas, estudantes. Todas queriam ver Dita — a cantora que havia conquistado os corações e desafiado as regras de um mundo feito para homens.
Dita nunca fora apenas uma voz. Era uma presença. Quando subia ao palco, o salão silenciava. Cada nota que saía de sua boca vinha carregada de algo maior: força, desejo, vida.
Mas, naquela noite, a comoção tinha um detalhe inédito — e escandaloso.
As mulheres queriam entrar.
Para Tamires, dona do dancing e guardiã de suas "regras tradicionais", aquilo era quase um atentado à ordem. O Dancing Paris sempre fora território masculino.
Ali, os homens bebiam, riam, faziam negócios e, vez ou outra, choravam ao som de um samba triste.
Mas fila de mulheres? Isso, jamais.
Do camarim, Dita observava pela janela o mar de rostos femininos. Algumas usavam flores no cabelo em homenagem a ela, outras seguravam cartazes improvisados com frases como "A voz que fala por nós".
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